Na mesma semana em que o presidenciável João Doria (PSDB) acenou aos seus concorrentes na chamada terceira via em busca de uma candidatura única, partidos desse campo anunciaram conversas para federações. Os apoios que o tucano espera receber, no entanto, dependem dessas tratativas e esbarram em sua alta rejeição.
No último domingo, em uma live promovida por um grupo de empresários, Doria falou em construir uma única candidatura, citando os nomes de Sergio Moro (Podemos), Simone Tebet (MDB), Alessandro Vieira (Cidadania) e Rodrigo Pacheco (PSD).
Aliados de Doria acreditam que ele seria esse candidato principal e apostam no crescimento de seu nome conforme a campanha avance. Mas, se o governador paulista não conseguir capitalizar em cima da vacinação e de outras vitrines, tucanos veem chances de o partido desistir de lançá-lo.
A possibilidade de ampliar a bancada, de contar com um tempo significativo de TV, a proximidade ideológica e a boa relação de Doria com líderes das demais siglas são pontos apontados como atrativos para uma aliança com o tucano.
“Isso só vai se materializar provavelmente entre o final de junho e o início de julho”, completou Doria a respeito das alianças em coligações majoritárias.
Mas o debate sobre federações atravessou na frente, já que a data para sua formalização é 2 de abril –a não ser que o STF (Supremo Tribunal Federal) amplie o prazo em julgamento sobre o tema previsto para quarta-feira (9).
O PSDB de Doria já tornou públicas as negociações para a formação de uma federação com o Cidadania, de Vieira, e com o MDB, de Tebet. Em paralelo, o MDB também ensaia uma federação com a União Brasil, partido formado por PSL e DEM e que não tem presidenciável próprio –cujo apoio também é cobiçado pelos tucanos.
Membros dos partidos da terceira via consultados pela Folha afirmam que as conversas sobre coligações andam a passos lentos e devem se intensificar em junho, já que o momento é o de discutir federações.
O presidente do PSDB e coordenador da campanha de Doria, Bruno Araújo, afirma que não concentrar as candidaturas da terceira via significa consolidar a polarização. “A pauta agora é a das federações. As coligações serão discutidas mais para frente, nada acontecerá antes de junho”.
Em ambas as modalidades, porém, Doria enfrenta obstáculos para se consolidar como a candidatura única da terceira via segundo representantes das siglas citadas por ele.
No caso das federações, que exigem das siglas envolvidas a atuação conjunta por quatro anos, inclusive nas eleições municipais de 2024, os entraves para o PSDB são os mesmos de todas as legendas, sobretudo das maiores: aplacar disputas regionais para chegar a candidatos únicos nos estados e cidades, além de traçar um programa comum.
Tucanos e emedebistas do alto clero admitem que a federação entre os partidos tem poucas chances de prosperar. O mais esperado é que se consolide o acerto entre PSDB e Cidadania, o que na prática obrigaria Vieira a retirar sua candidatura, embora isso não seja admitido de cara pelo partido.
“Defendo um processo de concentração de forças no centro democrático, mas dentro de uma construção de projeto nacional, sem imposição de nomes ou atropelos. Mais adiante é preciso um gesto daqueles que não se veem viáveis”, declara Vieira.
O presidente do Cidadania, Roberto Freire, diz saudar a fala de Doria a favor de unidade. “Seria importante para o país e para a democracia. Em junho vamos analisar o quadro e isso vai ter que ser decidido”, afirma.
Na última pesquisa Datafolha, divulgada em dezembro, Vieira não pontuou, enquanto Doria chegou a 3%.
Para atrair os demais –Moro (9%), Tebet (1%) e Pacheco (1%)— restaria ao tucano realizar coligações, mas nesse caso sua alta rejeição se torna uma objeção, embora haja concordância entre esses partidos sobre as vantagens de uma candidatura única.
De acordo com a leitura de líderes dessas legendas, evitar a fragmentação é o caminho para tentar chegar ao segundo turno num cenário em que o ex-presidente Lula (PT) marca 47% e o presidente Jair Bolsonaro (PL) tem 21%.