(Por Fernanda Dourado)
Durante anos, a política baiana foi pautada por um discurso simples e direto: conversar com ACM Neto era o mesmo que conversar com Bruno Reis. A lógica se sustentava porque Bruno, vice-prefeito e depois prefeito de Salvador, sempre esteve sob a influência política do ex-prefeito e ex-candidato ao governo da Bahia. Mas esse cenário mudou.
A derrota de ACM Neto para Jerônimo Rodrigues em 2022 e a reeleição de Bruno Reis em Salvador consolidaram uma nova realidade. Bruno, que antes era visto como um braço do grupo liderado por Neto, agora tem luz própria. A afirmação de Félix Mendonça, presidente estadual do PDT, ao site Bahia Repórter, de que a aliança do partido é com Bruno Reis e não com Neto, apenas escancara o que a política já vinha desenhando nos bastidores: Uma nova configuração política.
Antes, partidos e lideranças tratavam Neto e Bruno como um só. Agora, a conjuntura política exige abordagens diferentes para cada um. Quem quiser construir alianças na Bahia precisa ter clareza de que são dois políticos distintos, com desafios e estratégias próprias, mas, claro, muito bem alinhados.
A movimentação do PDT mostra que os partidos e políticos já entenderam essa mudança. Félix Mendonça não desmentiu que o PDT dialoga com o governo e, ainda afirmou, que caso haja um alinhamento, isso não significaria um rompimento com ACM Neto porque, na prática, o PDT está com Bruno, não com o ex-prefeito de Salvador.
Em 2022, o partido apoiou Neto, mas alega que ele não cumpriu o compromisso de incluir os pedetistas na chapa majoritária. Agora, com o PDT na base do governo Lula e dialogando com o PT na Bahia, a legenda demonstra que não pode mais ser tratada como parte automática do bloco oposicionista.
Bruno e Neto são os maiores oposicionistas ao governo da Bahia. A relação entre eles continua forte, marcada por amizade e lealdade. No entanto, o cenário político mudou. Se antes Bruno era visto apenas como um aliado de Neto, hoje ele se consolidou como uma liderança independente. Ele não se separou de Neto, mas cresceu e saiu da sua sombra, conquistando espaço próprio na política baiana. Os partidos e líderes políticos já reconhecem essa distinção e, por isso, as articulações precisam ser feitas considerando que Bruno e Neto, apesar de aliados e unidos, não têm a mesma decisão para alianças.
Hoje, qualquer liderança que queira espaço na Bahia precisa negociar em duas frentes: uma com Neto, o estrategista que ainda é peça-chave na oposição, e outra com Bruno, o prefeito reeleito que já tem cacife próprio para decidir os rumos de sua carreira.
Bruno e Neto continuam aliados, mas não são mais uma extensão um do outro. O jogo mudou, e a política baiana já reconhece que cada um tem seu próprio peso e sua própria influência. Em 2026, quem não enxergar essa nova dinâmica corre o risco de apostar em um palanque incompleto.
Uma coisa, porém, já está clara: lealdade não significa dependência. Para os que ainda insistem em tratá-los como um só, o recado já foi dado—na Bahia de hoje, Neto é Neto e Bruno é Bruno.
Fernanda Dourado é editora-chefe do site Bahia Repórter, consultora e especialista em política, há mais de 20 anos. A jornalista é apresentadora e repórter da TV ALBA – Assembleia Legislativa da Bahia – onde apresenta programas políticos desde a fundação da emissora. Escreve neste espaço às quartas-feiras; Instagram e TikTok: @fernandadouradoreporter