“O nascimento de um filho envolve sentimentos de alegria e gera grande expectativa, pois a sua chegada mudará desde a rotina, a estrutura física da casa até as relações dos familiares e a função de cada membro.
O significado do nascimento de um filho é sempre único para cada pessoa, pois se a sua chegada gera mudanças profundas para os seus familiares, o que dizer do impacto que traz à Mãe, que além de viver essas mudanças, também viverá as consequências dos efeitos hormonais, dores físicas causadas pelo parto e amamentação, como também será afetada emocionalmente por esse momento de extrema felicidade, incertezas e preocupações?
Segundo a OMS 13% das mulheres que se tornam mães sofrem de algum transtorno mental, principalmente depressão. Além disso, 1 em cada 5 mulheres exibe algum tipo de transtorno perinatal de ansiedade.
Como exigir dessa pessoa a estabilidade psíquica nesse período tão cheio de mudanças?!
Quando nasce um filho, nasce uma nova mulher, acredito que mais realizada, que traz consigo a materialização da felicidade, mas também a sobrecarga de grandes responsabilidades pela sobrevivência, segurança e bem-estar do novo ser. Agora, ela ganha uma nova identidade: MÃE!
E ser Mãe é ser muito o tempo todo. E tem a casa, às vezes, outras crianças, o marido, o trabalho e a cobrança social em ser tudo isso, linda, plena, tranquila e atrativa para o companheiro.
Mas, quando a própria família e a sociedade se esquecem de olhar amorosamente para a Mãe, para esse processo de metamorfose que ela vive, para o seu psicológico e emocional e, com tanto desgaste e estresse causados pela falta de ajuda e reconhecimento, a tentativa de ser tudo o tempo inteiro, faz surgir um sentimento de culpa por ela achar que não está sendo boa o suficiente.
Associado a toda essa cobrança externa e interna, acontece uma descarga hormonal gigante e os riscos de ter o aspecto mental, emocional e psicológico afetado é bastante considerável.
Assim, a saúde da mamãe precisa da mesma atenção quanto a do bebê, tanto durante a gravidez e o parto, quanto depois do nascimento da criança.
A maternidade necessita de cuidados, ao longo do tempo, e dedicação adicional à manutenção do equilíbrio emocional da mulher, pois os altos e baixos vivenciados pelas Mães não param na infância. Novos desafios e preocupações lhes aguardam na puberdade, adolescência até na vida adulta dos filhos, pois assim como a chegada deles não é uma tarefa fácil de lidar, pelo alto nível de incerteza e preocupações, a saída dos filhos de casa, afeta as Mães, sobremaneira, que geralmente são acometidas de um sofrimento excessivo associado a perda de função na vida dos filhos, a chamada Síndrome do Ninho Vazio.
Mas, fiquem tranquilas, esse sentimento é natural e pontual. Ele, geralmente, passa assim que se estabelece uma nova ordem familiar. Se não passar, procure um especialista.
A vida é um eterno aprendizado, por isso, às Mães que estão vivenciando o medo e a alegria da chegada, recomendo que vivam um dia de cada vez, reservem um tempinho para si mesmas e, mesmo que não seja fácil, busquem, treinem e ensinem seus rebentos a voarem.
E, às Mães que já vivem o gratificante momento de ver seus filhos alçarem voos, para melhor adaptação dessa essa fase, oriento que façam algo novo, como um curso, uma viagem, um trabalho voluntário, enfim, veja o lado positivo: vocês terão mais tempo para vocês, cuidem-se!
A esses anjos que Deus nos deu com o nome de Mãe, obrigada pelo amor incondicional na preparação e aconchego do ninho na chegada e pelo incentivo do voo na partida!”
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Juliana Régis da Costa é médica psiquiatra.
Texto de responsabilidade exclusiva da profissional.