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Política

Exclusivo: A transição da presidência na ALBA, respeito à Instituição e o peso da história;Veja o comentário da articulista política da Tribuna da Bahia, Fernanda Dourado

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Por Fernanda Dourado


O Parlamento baiano viveu um momento histórico. Em quase dois séculos de existência, pela primeira vez, uma mulher assumiu a presidência da Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA), o terceiro cargo mais importante do Estado. Mas a história dessa transição não se escreve apenas pelos fatos formais, e sim pela maneira como foi conduzida: com cautela, compromisso e um profundo senso de responsabilidade.


No dia 10 de fevereiro, o Supremo Tribunal Federal (STF) determinou o afastamento imediato do então presidente da ALBA, deputado Adolfo Menezes (PSD), por meio de decisão assinada pelo ministro Gilmar Mendes. A medida atendeu ao pedido do deputado estadual Hilton Coelho (PSOL), que apontou a inconstitucionalidade na eleição do parlamentar. Com isso, Ivana Bastos, que obteve uma votação expressiva de 56 votos à vice-presidência, assumiu interinamente a presidência no mesmo dia.


Sua postura diante da nova responsabilidade chamou a atenção: mesmo sendo oficialmente presidente interina, Ivana optou por continuar despachando de seu gabinete de deputada, sem precipitação. Ela tinha uma entrevista marcada comigo assim que a decisão saiu, mas resolveu adiá-la, evitando falar no afã do momento. Só assumiu de fato a presidência após a decisão final do Supremo, quase um mês depois, com prudência e compromisso com o Parlamento.


Adolfo Menezes sempre demonstrou zelo pelo erário público e é reconhecido no meio político por ser um homem de palavra. Nos bastidores da ALBA, em conversas informais com os legisladores, ouvi a história de que, antes mesmo de ser presidente da Casa, ele foi convidado a disputar a eleição para o cargo e recusou. Perguntei a ele sobre isso em entrevista, e Adolfo confirmou que não aceitou ser candidato porque não se sentiria confortável em concorrer contra um amigo, o então presidente Marcelo Nilo, com quem frequentemente compartilhava momentos informais, como cafés da manhã. Esse posicionamento cuidadoso explica por que, agora, mesmo afastado da presidência, ele continua sendo prestigiado por todos os parlamentares.


Adolfo Menezes foi reconduzido por 61 legisladores – um número que demonstra a força e a confiança que o Parlamento deposita em sua liderança. Ele sabia o risco que corria ao aceitar o pedido dos legisladores para se candidatar à presidência, mas mesmo assim decidiu seguir adiante, demonstrando comprometimento e atenção à vontade dos seus pares. Seu nome sempre foi bem-quisto dentro da ALBA, tanto pela base do governo quanto pela oposição.


Além de sua seriedade na postura institucional, Adolfo Menezes também é conhecido por outro traço marcante: a franqueza bem-humorada. No Plenário, mesmo como presidente, nunca fugiu de debates e sempre teve o hábito de praticar o que os parlamentares chamam de “sincericídio” – fala o que pensa, sem rodeios, mas sempre com leveza e um toque de humor. Esse jeito direto, mas espirituoso, fez, durante sua gestão, com que até mesmo críticas mais duras fossem recebidas com consideração e, muitas vezes, sorrisos dos legisladores.


Maquiavel dizia: “Dê o poder ao homem, e descobrirá quem ele realmente é.” Adolfo Menezes esteve no terceiro cargo mais poderoso do Estado por dois mandatos consecutivos e jamais demonstrou soberba. Pelo contrário, sempre tratou a todos com humanidade – imprensa, funcionários e legisladores, independentemente de posição política. Sua liderança foi marcada pela forma equilibrada com que conduziu as decisões da Casa, reafirmando que o verdadeiro poder não está na imposição, mas na capacidade de dialogar.
Em entrevista ao Bahia Repórter, Ivana fez questão de reforçar sua consideração pelo ex-presidente, pelos legisladores e pelo momento que o Parlamento enfrentava.


Ivana conduziu esse processo com muita sensibilidade e equilíbrio, características que ficaram evidentes em sua postura tranquila e na forma cuidadosa com que lidou com a transição. Sua prudência e visão institucional demonstram que a estabilidade da Casa esteve acima de qualquer protagonismo. E que, com certeza, a sua sensibilidade feminina, também, deixou a transição mais suave.


É inspirador ver na política  o compromisso de um ex-presidente e da atual presidente com a instituição e com a boa gestão dos recursos públicos. Essa transição na ALBA ficará marcada não apenas pelo ineditismo de uma mulher assumir a presidência, mas pela forma serena e responsável com que esse processo foi conduzido, por ambos os lados, reafirmando que a política pode – e deve – ser feita com dignidade e humanidade.


Eu me orgulho de testemunhar este momento no Legislativo da Bahia, pois o Parlamento faz parte da minha história. Há mais de 20 anos, acompanho o dia a dia desta Casa, ouvindo debates, testemunhando embates e registrando conquistas que moldam o futuro do nosso Estado. Estar aqui agora, cobrindo esse marco histórico, não é apenas parte da minha profissão, mas da minha própria trajetória. Porque, no fim das contas, a política não se resume a cargos e mandatos – ela é construída por aqueles que a vivem, que a entendem e que sabem reconhecer quando a história está sendo escrita diante dos seus olhos.

Fernanda Dourado é editora-chefe do site Bahia Repórter, consultora e especialista em política, há mais de 20 anos e escreve na coluna política da Tribuna da Bahia toda quarta-feira.A jornalista é apresentadora e repórter da TV ALBA  – Assembleia Legislativa da Bahia – onde apresenta programas políticos desde a fundação da emissora.  Escreve neste espaço às quartas-feiras; Instagram e TikTok: @fernandadouradoreporter

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