FERNANDA DOURADO
O cenário político baiano começa a ganhar contornos mais definidos para 2026, e com ele, os ruídos dentro da base aliada também se intensificam. O Partido dos Trabalhadores (PT) dá sinais claros de que pretende lançar uma chapa majoritária “puro-sangue” — ou seja, com o controle total das candidaturas principais, incluindo o governo do estado e as duas vagas ao Senado Federal.
O fim do tripé e a chegada silenciosa do Avante
Em 2022, a base governista era sustentada por um tripé político de peso: PT, PSD e PP. Com a saída do então vice-governador João Leão (PP), essa estrutura foi desfeita. O Avante, que entrou posteriormente, não conseguiu ainda ocupar o espaço de articulação, capilaridade e influência popular deixado pelo PP, mas parece caminhar para isso. Desde então, o PSD assumiu papel ainda mais central ao lado do PT, sustentando a governabilidade e mantendo a base unida.
PT sinaliza hegemonia — e Coronel reage
As declarações públicas do senador Jaques Wagner e do ministro da Casa Civil Rui Costa — ambos do PT — confirmando a intenção de disputar simultaneamente as duas vagas ao Senado em 2026, causaram alvoroço no jornalismo político, nos bastidores, na base aliada e, também, no PSD. “Nosso candidato à reeleição ao Senado chama-se Jaques Wagner. E eu estou colocando meu nome a uma vaga de senador”, afirmou Rui Costa.
A reação do senador Ângelo Coronel (PSD) foi direta: “Boa chapa… mas eu não sou PT, sou PSD.” Com isso, sinalizou insatisfação com o que interpreta como tentativa de exclusão da legenda da cabeça da chapa majoritária.
O PSD tem peso — e sabe usá-lo
A força do PSD na Bahia é inquestionável. O partido é hoje a maior e mais bem estruturada legenda do interior da Bahia, com:
• Dois senadores da República;
• Mais de 100 prefeituras nos 417 municípios baianos;
• 932 vereadores na Bahia, o número corresponde a 20,29% dos 4.593 vereadores vitoriosos no estado nas eleições de 2024;
• A presidência da Assembleia Legislativa da Bahia, com a deputada Ivana Bastos — a primeira mulher a ocupar o cargo;
• Forte presença em comissões estratégicas e atuação forte no Legislativo estadual e federal.
• Um histórico de fidelidade ao projeto petista desde 2007, com Otto Alencar, seu principal líder, sendo uma das figuras mais respeitadas da política baiana e nacional.
É importante ressaltar: nenhuma chapa majoritária na Bahia venceu sem o apoio decisivo do PSD desde 2006. O partido não atua como coadjuvante — é coprotagonista e agente de decisão. Além de ser um dos partidos mais influentes e determinantes na sustentação do projeto político do PT.
Ângelo Coronel é um dos quadros mais habilidosos do PSD. Como deputado estadual, virou o jogo contra Marcelo Nilo que buscava seu sexto mandato como presidente da Assembleia Legislativa. Acompanhei de perto a articulação silenciosa e eficaz de Coronel no Parlamento ao vencer a presidência na época com apoio de toda a bancada da oposição ao seu lado.
Mais recentemente, Ângelo Coronel Filho também mostrou a força do clã ao articular sua pré-candidatura à presidência da Assembleia. Embora tenha recuado em nome da unidade partidária, deixou claro o peso e o espaço que a família e o grupo político ocupam dentro do PSD e da política estadual.
O senador Otto Alencar é, sem dúvida, a principal liderança do PSD na Bahia. Um político experiente, admirado por todas as correntes ideológicas, com histórico de equilíbrio, serenidade e diálogo.
A Bahia é hoje o quarto maior colégio eleitoral do Brasil, e o PSD é, comprovadamente, um dos partidos com maior presença, estrutura e legitimidade popular no estado. Mesmo que não esteja na cabeça de chapa em 2026, o PSD, caso siga na base, certamente terá papel decisivo nos rumos do governo — seja no Senado, na Assembleia, nas secretarias estratégicas ou no fortalecimento da articulação com os municípios – já que Otto Alencar é considerado um dos políticos mais hábeis do país na arte de articular e negociar.
Caso o PSD não permaneça na base do governo, o impacto político seria profundo. O rompimento com o PSD — representaria mais que um enfraquecimento da aliança: seria o desmonte da principal estrutura que sustentou o projeto governista nos últimos 20 anos. A ausência do PSD no núcleo de decisões do governo não apenas fragilizaria a coalizão, como abriria espaço para um novo redesenho político na Bahia, com consequências diretas nas urnas em 2026.