( Por Fernanda Dourado) – artigo publicado nesta quarta-feira (23) na Tribuna da Bahia
Há pouco mais de um mês, a Assembleia Legislativa da Bahia viveu um marco que deve ser registrado com respeito e celebrado com consciência histórica: a deputada Ivana Bastos tornou-se a primeira mulher a presidir o Parlamento baiano em quase dois séculos de existência. Na sequência, a deputada Fátima Nunes assumiu a 1ª vice-presidência da Casa, também como a primeira mulher a ocupar esse posto.
Essas duas vitórias não representam apenas uma mudança institucional — elas simbolizam uma virada de página na história política da Bahia.
Sensibilidade, firmeza, escuta ativa, equilíbrio e visão coletiva — tantas vezes subestimadas quando associadas ao feminino — hoje são qualidades centrais na condução da ALBA. Qualidades que ganham protagonismo legítimo através de duas mulheres que representam, com competência e integridade, o que há de mais promissor na política atual.
A presidenta Ivana Bastos conduziu sua transição com elegância, empatia e respeito à história da Casa. Sua postura sempre cautelosa e ética reafirma seu compromisso com o diálogo e com o bem público.
A deputada Fátima Nunes traz ao plenário a força da mulher sertaneja, com posições firmes, voz ativa e profundo respeito entre os colegas. Sua atuação, especialmente na Comissão dos Direitos da Mulher, é marcada por coerência, coragem e compromisso com as causas coletivas.
Ver essas mulheres na presidência e vice-presidência da ALBA é um símbolo potente — especialmente quando contrastado com a própria história do Brasil.
Há menos de 100 anos, mulheres sequer podiam votar.
Foi somente em 1932, com o Decreto nº 21.076, que o voto feminino foi oficialmente reconhecido — e, mesmo assim, de forma facultativa e dependente da permissão do marido para muitas brasileiras.
A igualdade política plena só foi garantida em 1965, quando o voto feminino passou a ser um dever cívico, como o masculino.
Antes disso, a mulher não podia votar, nem ser votada, nem ocupar cargos públicos. A ideia de que pudesse conduzir um Parlamento seria considerada, à época, impensável.
As conquistas constitucionais também vieram em etapas:
• A Constituição de 1934 reconheceu a igualdade de direitos e proibiu a diferença salarial por sexo;
• A de 1946 representou retrocessos, ao eliminar a expressão “sem distinção de sexo” das garantias legais;
• Apenas com a Constituição de 1988 consolidaram-se os principais avanços em igualdade civil, trabalhista, previdenciária e política para as mulheres — inclusive o direito a votar e ser votada, com garantias reais de participação e representatividade.
Hoje, mulheres que antes não podiam sequer sair de casa para votar sem autorização, lideram a principal Casa Legislativa do Estado da Bahia.
Esse avanço não pertence apenas a Ivana Bastos e Fátima Nunes — ele pertence a todas as mulheres que vieram antes, e às que virão. Às que enfrentaram o preconceito, às que abriram caminhos invisíveis, às que resistiram sem reconhecimento.
E hoje, essa virada se personifica em duas mulheres baianas que carregam não apenas os cargos, mas o peso simbólico da reparação histórica:
Ivana Bastos, com sua serenidade e capacidade de escuta, representa o diálogo maduro, o equilíbrio e a sabedoria institucional.
Fátima Nunes, com sua voz firme e coragem de sertaneja, representa a luta, a resistência e a força popular que constrói a política com os pés no chão.
Juntas, elas não apenas fazem história. Elas inspiram o futuro.
Fernanda Dourado é editora-chefe do site Bahia Repórter, consultora e especialista em política, há mais de 20 anos. A jornalista é apresentadora e repórter da TV ALBA – Assembleia Legislativa da Bahia – onde apresenta programas políticos desde a fundação da emissora. Escreve neste espaço às quartas-feiras; Instagram e TikTok: @fernandadouradoreporter