Na minha primeira aula de pós-graduação em Marketing Político e Pesquisa Eleitoral, tive a honra de assistir a uma palestra de Duda Mendonça, um dos maiores nomes da comunicação política brasileira e, como eu, baiana. Duda, que faleceu em 2021, foi ex-marqueteiro do Partido dos Trabalhadores (PT) e se tornou conhecido nacionalmente por ser o publicitário por trás da primeira campanha eleitoral vitoriosa de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência da República, em 2002. Naquela aula, Duda fez uma reflexão que se mantém extremamente relevante: a importância da antecipação na comunicação. Para ele, antes mesmo de a oposição ou os adversários falarem algo, é fundamental se antecipar, ou seja, “vacinar” ao explicar uma situação e mostrar os benefícios de uma ação ou política. Na época, o conceito de fake news ainda não existia como o conhecemos, mas o espírito da fala de Duda já se alinhava com o que viria a ser um dos maiores desafios na comunicação política: a desinformação.
Duda Mendonça, em uma fala que ecoa até os dias de hoje, destacou que, quando fazemos algo de bom para uma pessoa, ela tende a espalhar isso para poucas pessoas. No entanto, quando cometemos um erro, ele se espalha rapidamente, multiplicando-se em escala exponencial. Essa percepção, que pode parecer intuitiva, é, na verdade, uma das bases para o entendimento da comunicação política e do seu impacto na formação da opinião pública. A comunicação precisa ser estratégica, clara e verdadeira, para que as boas ações não sejam abafadas por falhas que, muitas vezes, podem ser distorcidas ou manipuladas.
O governo, ao perceber a importância dessa dinâmica, finalmente acorda para o papel essencial da comunicação em tempos modernos. Este despertar chega em um momento crítico, quando a desinformação e as fake news se tornaram um dos maiores obstáculos para a construção de uma sociedade informada e consciente. A notícia falsa, ou a distorção da realidade, não só prejudica a imagem de governantes, mas também compromete a democracia, criando confusão e polarização, minando a confiança da população nas instituições.
Sidônio Palmeira, o novo Ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), assumiu recentemente a pasta e, em sua posse, declarou que a desinformação é o “grande mal da humanidade”. Ele usou como exemplo as notícias falsas recentes sobre a cobrança de impostos sobre transações por PIX, explicando que o governo realizará uma campanha para esclarecer que não há base constitucional para essa cobrança. A declaração de Sidônio reflete seu compromisso em enfrentar a desinformação e assegurar uma comunicação mais transparente e eficaz.
Sidônio Palmeira, assim como Duda Mendonça, tem uma carreira consolidada como publicitário e é amplamente reconhecido nos bastidores políticos. Com vasta experiência, ele já atuou como presidente da Associação Brasileira de Agências de Publicidade (ABAP) e foi presidente do Sindicato das Agências de Propaganda da Bahia. Recentemente, Sidônio liderou a campanha de 2022, que elegeu Lula para seu terceiro mandato. Nesse contexto, é possível traçar um paralelo entre ele e Duda Mendonça, que também foi fundamental na campanha de 2002, quando Lula conquistou sua primeira vitória. Ambos têm uma visão estratégica e a habilidade de conduzir campanhas em tempos de alta polarização e de ataques de desinformação, especialmente nas redes sociais.
Vale lembrar que, historicamente, a direita sempre teve uma grande força nas redes sociais, usando plataformas digitais de forma agressiva e eficaz. O PT, por sua vez, melhorou sua presença nas redes em 2022, em grande parte devido à participação do deputado federal André Janones, que se destacou por sua atuação nas redes sociais, desmentindo fake news e combatendo narrativas falsas. A combinação da experiência de Sidônio Palmeira e a expertise de Janones nas redes ajudou a fortalecer a comunicação do partido e a enfrentar as mentiras disseminadas por adversários.
Sidônio Palmeira, com sua competência reconhecida, compreende, como Duda Mendonça já havia ressaltado, que a comunicação deve ser trabalhada com antecedência, de forma cuidadosa e planejada, para que o governo possa combater, de maneira eficaz, as notícias falsas que tomam conta das redes sociais e das plataformas digitais. Ele tem a habilidade de antecipar as situações, mostrando o lado positivo de cada política e desafiando qualquer tentativa de manipulação ou desinformação.
A principal tarefa do governo, agora, deve ser justamente combater as fake news. A desinformação não é apenas um problema ético, mas também um grande desafio logístico e político. As informações erradas se espalham rapidamente e podem gerar consequências desastrosas para a gestão pública, para a imagem do governo e para a confiança que a população deposita nas instituições. Por isso, a missão de combater as fake news deve ser encarada não como um simples jogo de imagem, mas como uma responsabilidade fundamental para a preservação da democracia e do bem-estar social.
Diante desse cenário, a estratégia de comunicação do governo precisa ser mais proativa, educando a população sobre os perigos da desinformação e criando canais transparentes e eficazes de divulgação da verdade. Ao adotar uma postura de antecipação, como Duda Mendonça bem orientou, o governo pode não apenas minimizar os efeitos das notícias falsas, mas também fortalecer a confiança pública, promovendo uma comunicação mais verdadeira e eficaz.
Em resumo, o momento é de reflexão e ação. A comunicação é uma poderosa ferramenta de gestão e de vínculo com a sociedade, e o governo, ao entender sua importância, tem a responsabilidade de usar essa ferramenta para combater as fake news e fortalecer a confiança pública. Sidônio Palmeira, com sua visão estratégica e sua reputação sólida no meio político, tem tudo para conduzir essa missão de forma exemplar, garantindo que a verdade prevaleça e que a sociedade se una em torno de informações claras e precisas.
Fernanda Dourado é editora-chefe do site Bahia Repórter, consultora e especialista em política, há mais de 20 anos. A jornalista é apresentadora e repórter da TV ALBA – Assembleia Legislativa da Bahia – onde apresenta programas políticos desde a fundação da emissora. Escreve neste espaço às quartas-feiras; Instagram e TikTok: @fernandadouradoreporter