A estratégia de não participar de debates televisivos quando se é o franco favorito nas pesquisas é uma tática bem conhecida e, em muitos casos, eficaz na política brasileira. O prefeito de Salvador, Bruno Reis, parece inclinado a seguir esse caminho em sua campanha pela reeleição. Até agora, ele participou de apenas um debate e dá sinais de que pode evitar novos confrontos na TV com seus adversários, incluindo o ex-aliado e atual vice-governador Geraldo Júnior, e Kleber Rosa, também candidato ao Palácio Thomé de Souza.
Quando se está na liderança, a participação em debates pode ser um risco desnecessário. Há sempre a possibilidade de cometer erros que comprometam a vantagem, ou de se tornar alvo de ataques coordenados pelos adversários. Bruno Reis, ciente de sua posição privilegiada nas pesquisas, sabe que qualquer movimento pode ter impacto significativo em sua campanha.
Esse cenário nos faz lembrar de ACM Neto, em 2022, que, apesar de liderar as pesquisas na corrida ao governo da Bahia, foi alvo de uma verdadeira emboscada por parte dos adversários durante um debate na TV Bahia. A pressão dos outros candidatos não só testou seus nervos como também afetou sua imagem entre os eleitores indecisos. Mesmo tendo nascido em berço televisivo, ACM Neto não soube ter traquejo – no momento que ele era o alvo. Outro ponto, também, é que os candidatos combinaram entre eles de evitar perguntas para Neto – que estava, visivelmente, incomodado chegou até a falar que os candidatos estavam o excluindo (parecendo briga de colégio). Apesar de sua competência e habilidade oratória, Neto acabou tendo sua vantagem reduzida e perdeu a eleição, obviamente, por diversos outros fatores. Vale lembrar que este resultado poderia ter sido evitado se tivesse decidido não participar.
Não é a primeira vez que líderes de pesquisas escolhem cuidadosamente os debates dos quais participam. Fernando Collor, em 1987, optou por não comparecer ao primeiro debate presidencial promovido pela Band, mesmo liderando as intenções de voto. Da mesma forma, o ex-presidente Lula, em 1987, também se ausentou de um debate organizado pela Associação Comercial do Rio de Janeiro, quando estava à frente nas pesquisas.
A ausência nesses eventos pode ser uma estratégia para evitar armadilhas e preservar a imagem, mas também carrega, logicamente, riscos. A decisão de ACM Neto em 2022 mostra que, às vezes, a presença em debates pode ser desastrosa, especialmente quando os adversários estão determinados a desestabilizar o líder. Por outro lado, a ausência pode ser vista como fuga e causar desgaste entre eleitores que esperam ver seus candidatos confrontando ideias e propostas.
A estratégia de Bruno Reis parece, até agora, ser a de minimizar riscos. Como líder nas pesquisas, ele tem mais a perder do que a ganhar em um debate televisivo, especialmente quando seu principal oponente é alguém com quem já compartilhou alianças políticas. A dúvida que permanece é se essa abordagem será suficiente para garantir sua reeleição ou se a pressão pública e a expectativa de um confronto entre ex-aliados o levará a reconsiderar e participar dos debates.
Em suma, a decisão de um líder de pesquisas como Bruno Reis de não participar de debates pode ser uma jogada estratégica para evitar surpresas desagradáveis.
Fernanda Dourado é apresentadora e repórter da TV ALBA – Assembleia Legislativa da Bahia; Editora-Chefe do site Bahia Repórter. A especialista, também, é consultora política. Escreve neste espaço às quartas-feiras; Instagram e TikTok: @fernandadouradoreporter