A bióloga e pesquisadora baiana Vanessa Dias, 36 anos, sempre soube que não poderia desperdiçar oportunidades. Foi assim quando decidiu trabalhar no McDonald’s, ainda no final do Ensino Médio, para conseguir pagar o cursinho pré-vestibular e quando se tornou bolsista de iniciação científica na Universidade Federal da Bahia (Ufba).
Essa atitude não mudou em nenhum momento – nem quando encarou um estágio na Áustria, sem falar inglês, para tocar o mestrado, ou quando embarcou para quatro anos de doutorado na Universidade na Flórida, nos Estados Unidos. Por isso, não seria diferente quando se candidatou à vaga que a transformaria em uma das principais entomologistas – uma cientista que estuda insetos – da Agência Internacional de Energia Atômica (IAEA, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas (ONU), na Áustria, onde está hoje, com projetos com a mosca de fruta.
Em casa, ninguém tinha feito faculdade antes. A mãe, que concluiu a escola aos 50 anos, é aluna de Serviço Social na Ufba aos 66 anos. Um dos irmãos, policial militar, cursa Psicologia. “Não fazia parte da minha realidade saber o que era mestrado, doutorado, pesquisa, nada disso”, lembra. Na época, morava no Cabula, perto da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), onde o resto da família ainda vive.
No Ensino Médio, ainda aluna do Colégio Estadual Thales de Azevedo, era o momento de decidir o que fazer. Para Vanessa, era cada vez mais certo que precisava estudar. No entanto, em 2003, sabia que seria difícil entrar em uma faculdade pública. Naquela época, ainda não existia o sistema de cotas, que só viria a ser implementado na Ufba no final do ano seguinte para estudantes que começassem a estudar em 2005. Correio da Bahia.