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Deputados usam plenário da Câmara para disseminar informações falsas sobre a pandemia

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Em 2021, o plenário da Câmara dos Deputados foi palco de ao menos 45 discursos que disseminaram informações anticientíficas sobre a pandemia, aponta um levantamento da Lupa. Ao todo, 13 parlamentares utilizaram o espaço para incentivar o uso do chamado “tratamento precoce”, sem efeito contra a Covid-19, ou colocar em dúvida a segurança e a eficácia das vacinas.

Item mais citado, a defesa do kit composto de hidroxicloroquina, ivermectina e outras substâncias apareceu em 34 discursos. Já falsas acusações de que vacinas seriam inseguras ou ineficazes aconteceram em 17 momentos.

A eficiência do uso de máscaras faciais no combate à pandemia também foi questionada na fala de dois parlamentares. Em alguns discursos, os deputados trataram de mais de um tópico ao mesmo tempo.

O levantamento foi realizado a partir da busca de palavras-chave no banco de discursos da Câmara e se refere às falas de deputados transmitidas no plenário da casa, realizadas de forma presencial ou remota, no ano de 2021.

Das 45 declarações identificadas, 23 são do deputado Giovani Cherini (PL-RS). Ao longo do ano, Cherini declarou que o “kit Covid” levaria a suposta uma taxa de sobrevivência próxima a 100%, garantiu que os hospitais estariam vazios se a população tivesse adotado o tratamento e sugeriu que os críticos aos medicamentos fariam parte de uma conspiração para provocar o maior número possível de mortes com o objetivo de obter vantagens políticas e econômicas.

Ao mesmo tempo, as falas anticientíficas se traduziram em engajamento para as redes sociais de Cherini. Em março de 2021, mês em que proferiu 16 discursos enaltecendo os supostos resultados do “tratamento precoce”, o parlamentar obteve o maior pico de audiência do ano em sua conta no Facebook.

O vídeo de um desses discursos foi o segundo mais assistido no mês, atingindo 27 mil visualizações na plataforma. Em sua fala, o deputado fez críticas ao que chamou de “negacionismo daqueles que negam o tratamento precoce”.

“Quem só prega que a solução é ficar em casa, quem só prega que a solução é usar a máscara, quem só prega que a solução é tomar a vacina está cometendo genocídio no Brasil. Por que não tratar com ivermectina? Por que não tratar com hidroxicloroquina, com zinco, com todos os remédios?”, questionou Cherini em 2 de março.

Em 27 de abril, o deputado Bibo Nunes (PSL-RS) chegou a estimar, sem explicar seu cálculo, que o “tratamento precoce” poderia ter evitado a morte de 60 mil pessoas em São Paulo. “Não há nada de efeito colateral. O ideal é usar a ivermectina do primeiro ao terceiro dia em que se sentem os sintomas. Chega a até 90% a eficácia do seu uso no tratamento”, indicou o parlamentar.

Diante da falta de evidências científicas que comprovassem sua eficácia, o “tratamento precoce” já era amplamente criticado por especialistas desde 2020, apesar da campanha do presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo uso dos medicamentos.

Estudos concluídos ainda naquele ano apontavam para a ausência de benefícios do kit de medicamentos contra a Covid-19. No início de 2021, a Organização Mundial da Saúde (OMS) reforçou o coro pelo não uso da hidroxicloroquina e da ivermectina no combate à doença.

Também incentivaram o uso do tratamento precoce os deputados Alê Silva (PSL-MG), Aline Sleutjes (PSL-PR), Coronel Chrisóstomo (PSL-RO), Dr. Luiz Ovando (PSL-MS), General Girão (PSL-RN), Otoni de Paula (PSC-RJ), Reinhold Stephanes Junior (PSD-PR) e Vitor Hugo (PSL-GO).

‘PICADA EXPERIMENTAL’
Em aplicação no Brasil desde janeiro de 2021, a vacina contra a Covid-19 foi chamada de “experimental” em 12 discursos no plenário. O termo sugere que sua segurança e eficácia ainda estão sendo testadas, o que é falso.

Os ensaios clínicos de todos os imunizantes analisados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já haviam sido concluídos à época de sua aprovação emergencial, demonstrando serem seguros e gerarem proteção contra o vírus.

A própria agência já desmentiu que as vacinas em uso no país sejam experimentais. Duas delas, a da Pfizer e a da AstraZeneca, obtiveram registro definitivo no país e podem ser comercializadas e distribuídas como qualquer outro medicamento.

Entretanto, em 9 de novembro, o deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), ao discursar contra a imposição do passaporte sanitário, alegou que não se pode obrigar a população a tomar uma vacina “cujos efeitos colaterais são desconhecidos”.

“Onde fica a frase da esquerda ‘meu corpo, minhas regras’? Só serve para matar criança no ventre da mãe? […] Ser contra o passaporte sanitário é dar direito ao cidadão que não quer se sentir cobaia de uma vacina experimental”, manifestou.

À época do discurso, o número de casos e mortes por Covid-19 estava em queda acentuada —associada, segundo especialistas, à aplicação de mais de 288 milhões de doses dos imunizantes no país.

Em 7 de outubro, o deputado Giovani Cherini voltou ao microfone do plenário da Câmara para fazer ataques à vacinação de crianças e adolescentes.

O deputado disse que há uma “ditadura” nas redes sociais que supostamente proíbe qualquer crítica aos imunizantes, razão pela qual decidiu usar o termo “picada experimental” em seu discurso: “Eu queria que um parlamentar viesse a esta tribuna dizer qual é a pesquisa que foi feita sobre essa picada em jovens e crianças. Há um detalhe importante. Qual é o fabricante ou o governo ou o médico ou o cientista que garante que essa picada não gera problema de saúde para a população, principalmente para os jovens?”

A imunização de crianças de 5 a 11 anos com a vacina da Pfizer foi aprovada em dezembro pela Anvisa a partir de estudos clínicos que confirmaram a segurança e a eficácia da vacinação dessa população.

O mesmo ocorreu em janeiro com a Coronavac, que foi aprovada para utilização na faixa etária de 6 a 17 anos. A vacinação infantil é defendida por cientistas e pelas sociedades brasileiras de Imunizações (SBIm), Pediatria (SBP) e Infectologia (SBI).

A própria bula da vacina da Pfizer cita entre possíveis efeitos adversos casos “muito raros” de miocardite e pericardite, inflamações relacionadas ao coração, que foram relatados especialmente entre homens mais jovens, depois da segunda dose e em até 14 dias da aplicação. Entretanto, o documento ressalta que geralmente são casos leves e que os indivíduos tendem a se recuperar em um curto período de tempo.

Para especialistas, a experiência com a aplicação de vacinas na população há décadas afasta a probabilidade do surgimento de supostos efeitos colaterais de longo prazo, constantemente alardeados por grupos antivacina.

“É muito pouco provável do ponto de vista da plausibilidade biológica. Em geral, os efeitos adversos ocorrem nas semanas seguintes à administração. O que importa nesse caso é a comparação de risco-benefício. E no caso da vacina da Covid, essa comparação está claramente pendendo para o lado do benefício, e não para o lado do risco”, explicou a professora professora do Departamento de Farmacologia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Ana Paula Herrmann em outra checagem publicada pela Lupa.

Os deputados Carlos Jordy (PSL-RJ), Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e Soraya Manato (PSL-ES) também fizeram questionamentos à eficácia das vacinas. Já as máscaras foram alvo das falas de Bibo Nunes (PSL-RS) e Giovani Cherini (PL-RS).

A Lupa entrou em contato por email com todos os deputados citados, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.Bruno Nomura/Folhapress

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